Carta para Walter

Juazeiro do Norte, 14 de setembro de 2020.

Caro Walter.

Acabo de ler seu texto, ”A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”. Eu e você vivemos em séculos diferentes. Há um espaço de nove décadas (caso não erre meus cálculos) que nos separa. Te escrevo em 2020. Vivemos uma pandemia, onde se pode, mas não se deveria sair de casa.

Quero te dizer, que durante esse momento difícil de isolamento social, é o cinema que em muitos momentos me dá um respiro e me faz sair de casa, ainda estando em casa. O cinema me leva a pensar, a refletir, a aprender e em muitas vezes, a me emocionar.

Discordo de seu texto no tocante a esta linguagem. Mas sei que quando você o escreveu, não tinha acesso ao cinema que eu tenho. Até porque ele não existia.

Queria que você tivesse visto alguns tantos filmes, que eu e meus contemporâneos vimos. Queria que você conhecesse a obra de Glauber Rocha, de Walter Salles, de Cláudio Assis, de Lúcia Murat, de Petra Costa. Aqui faço um recorte de meu país, Brasil. O cinema que eles fazem é o cinema que eu acredito. O cinema que toca e que ao mesmo tempo, educa, faz pensar, DENUNCIA.

Eu entendo o que você fala em relação ao maquinário, ao modus-operandis. Mas também discordo quando você fala sobre a aura dos atores, que segundo você, se perde no fazer cinematográfico. Gostaria que você tivesse visto Fernanda Montenegro em Central do Brasil. Gostaria que você tivesse visto Grace Passo, em Praça Paris. Gostaria que você tivesse visto Marcélia Cartaxo em A hora da estrela. Tem aura, Walter, tem tanta aura.

Walter, o nosso cinema é diferente. Mas o tempo fez mesmo que ele evoluísse. Acho que sua crítica também contribuiu para isso. Que bom que fez isso. Ainda existe muita coisa ruim. Mas existem também verdadeiras obras-primas.

Um abraço daqui.

Yasmin Gomes de Alencar.