Cartas para Maria - 2
- Yasmin Gomes
- 29 de jun. de 2020
- 1 min de leitura
São Paulo, 29 de maio de 2020.
Maria,
Eu perdi a conta da contagem. Não sei em que dia da quarentena estamos exatamente.70 e alguma coisa? Acho que já são quase 80. São quase três meses.
Começou a ficar frio, o sol está batendo cada vez menos. Aqui em casa temos trabalhado mais no quintal, onde até umas 14h ainda bate algum sol. Dentro de casa está gelado. Essa semana fizemos uma fogueira. Na verdade foi o Mario que fez, eu só aproveitei mesmo. Tomamos vinho e comemos marshmellow. Renata fez tempurá. Foi uma noite gostosa, mas foi em plena terça-feira, deu a impressão de que já era fim de semana. Não era. A semana passou devagar.
Segunda-feira começa junho.Esse ano não teremos São João. É a primeira vez que não vou celebrar minha festa favorita do ano. Fizemos mungunzá doce essa semana também. Aqui as pessoas insistem em chamar Canjica. Sabemos que não é...
O mundo continua sem melhoras. Nos Estados Unidos um homem negro foi assassinado por um policial. Ele suplicou que não conseguia respirar, mas o policial não quis escutar.
Maria, eu já te falei sobre a nossa condição de privilégio por sermos mulheres brancas. Te digo de novo, estuda, leia Djamila Ribeiro, Chimamanda, Bell Hooks, Angela Davis. É preciso ser antirracista.
No mais, agora Brasil virou o epicentro da pandemia. Olha só o tamanho dessa conquista? Isso é uma ironia. Continuamos com o verme do presidente no poder. E não tem mais ministro da saúde. Em plena pandemia, não temos ministro da saúde! Nem da cultura. Aliás, cultura não tem nem mais ministério...
Tempos difíceis, meu amor.
Que bom que você não está entendendo nada.
Tenho saudades.
Com amor.
Yasmin.
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